Aula de encerramento abre caminho para inserir agricultura no planejamento da cidade

Roda de conversa final com agricultores na aula de 4 de junho

A urbanização não espera o avanço da legislação, mas as oportunidades para inserir a agricultura orgânica no planejamento urbano, buscando soluções para a cidade como um todo, são inúmeras com a revisão do Plano Diretor Estratégico (PDE), em 2013. Os agricultores do projeto “Educação Ambiental para Incentivar a Agricultura Orgânica nas APAs Bororé-Colônia e Capivari-Monos” confirmaram a importância de participar das oficinas de revisão do PDE, como forma de enfrentamento da especulação imobiliária na região Sul e reforço das qualidades ambientais, turísticas e dos usos sustentáveis dessa região, pelos próximos anos.

 

Essa visão foi apresentada pela assessora do vereador Nabil Bonduki, a engenheira agrônoma Maria Lucia Bellenzani, na última aula do projeto, em 4 de junho, que também foi encerrado com a discussão de temas como pós-colheita, cooperativismo, recursos hídricos e resíduos sólidos. “O Plano Diretor irá desenhar os usos e a proteção do território, e além da agricultura orgânica, a zona Sul precisa de estruturas como escolas, coleta seletiva, sistema de transporte, entre outros, onde a Prefeitura investirá recursos se estiverem no PDE”, explicou Maria Lucia.

 

Já o papel da agricultura orgânica no fortalecimento de grupos locais e na influência de economias regionais foi reforçado por Maristela Canepelle, que trouxe a experiência da Associação Orgânicos da Mantiqueira, em Gonçalves (MG), para a última aula. Lá, a produção orgânica passou por dois momentos diferenciados de crescimento: no início dos anos 2000, houve um salto de produtores certificados, com até 36 propriedades envolvidas na Associação de Produtores Orgânicos; num segundo momento, com a expansão do turismo e da especulação imobiliária, seguida da saída dos produtores da associação, criou-se a empresa Orgânicos da Mantiqueira, com menos sócios e investimentos com menor volume, voltados às vendas regionais.

 

“Aprendemos que não compensa vender para grandes redes de supermercado, a importância de busca nichos certos e de conscientizar os consumidores. O objetivo é remunerar melhor o produtor rural e fomentar a agricultura orgânica, então é uma empresa que não gera lucro, mas divide renda”, contou Maristela.

 

Ela deu preciosas dicas sobre o pós-colheita e comercialização para os agricultores da zona Sul, como a importância de definir o público do negócio, ter formas de comercialização variadas, investir no processamento e lembrar que nem todos os consumidores aceitam padrões diferentes de produção. Da mesma forma, a expansão dos orgânicos em Gonçalves passa por iniciativas de envolvimento comunitário, como a realização do Festival de Inverno Orgânico, com opções de pratos e bebidas nos restaurantes e pousadas, práticas de lazer e shows, a organização da feira de orgânicos todo fim de semana, com espaço próprio, e até visitas com os consumidores às propriedades rurais.

 

Hoje, a Orgânicos da Mantiqueira é uma empresa que comercializa a produção de 15 agricultores de um mesmo grupo de certificação e proporciona uma melhor remuneração aos mesmos. Uma cesta de dez itens orgânicos, como hortaliças, legumes e frutas, vendida em São Paulo, remunera melhor os produtores do que o mercado convencional.

 

Diferentemente da certificação coletiva por auditoria, em Parelheiros, os agricultores vêm usando o sistema de certificação participativa, e nesse contexto, Mauri Joaquim Silva, primeiro certificado da região, anunciou a certificação de mais três propriedades pelo sistema: de Antonio Sodré, Geraldino Moreira, e Maria Irma Santiago.

 

A gestora do Instituto 5 Elementos – Educação para a Sustentabilidade, que executa o projeto em conjunto com o FEMA – Fundo Especial do Meio Ambiente de São Paulo, Mônica Borba, reforçou que a continuidade dos esforços se dá com a Plataforma de Agricultura Orgânica da Cidade de São Paulo. Ela também aprofundou a relação entre a proteção ambiental e os recursos hídricos, assim como os resíduos sólidos e a importância de repensarmos nosso consumo e impacto no planeta.

 

Aprendizados e desafios

 

A aula de encerramento do projeto, que teve duração de 16 meses, possibilitou um balanço dos principais aprendizados e das dificuldades enfrentadas na conversão para os orgânicos. “O curso atendeu ao que esperava, que é cuidar do terreno com alternativas de renda, e aproximou pessoas que não se conheciam. Junto com a agricultora Monica, vamos iniciar a produção de doces de frutos locais, como o mamão verde, com receitas dos antigos”, contou Alice Queirós, agricultora com uma propriedade no bairro Jardim Santa Cruz.

 

Para Antônio Sodré, proprietário de uma área no bairro Embura, o projeto foi um estímulo para dar continuidade ao que pretende fazer: produzir de forma limpa sem impacto no meio ambiente. “Já tinha abandonado o agrotóxico, mas o curso trouxe uma bagagem técnica, a exemplo das formas de manejo do solo”, contou. A maior dificuldade para ele foi a falta de equipamentos de trabalho, a exemplo do pequeno trator que, só depois de anos, conseguiu comprar para fazer o preparo do solo e formação dos canteiros.

 

“A falta de equipamentos e de mão de obra são as principais dificuldades. Mas o curso solucionou problemas do dia a dia por meio das visitas técnicas, apoiando com informações sempre que precisamos”, expressou Geraldino Ferreira, proprietário de um sítio na Bairro Barragem, e presidente da Cooperapas.

 

Segundo Lia de Souza, proprietária de um sítio no bairro Colônia, as aulas apoiaram com instrução no processo de conscientização de outros agricultores. Opinião compartilhada por Mônica, do Instituto 5 Elementos, para quem os agricultores representam um capital social, com pessoas aptas a dar aula e transmitir os conhecimentos acumulados.

Quer saber mais sobre o projeto ? Clique aqui : http://www.5elementos.org.br/site/index.php/programas/programa-espaco-educadores/agricultura-organica-nas-apas-2/




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